Em matéria de gestão
administrativa e gestão pública, o Brasil, mais precisamente o governo
brasileiro, é referência mundial e o resto do mundo tem muito que aprender com
nosso país sobre o que não se deve fazer na administração pública. Em
todos os setores e em todos os serviços públicos do país, nesses últimos 10
anos o governo do Brasil não fez o que deveria fazer e o pouco que fez foi
aplicado em obras e serviços que, para obter êxito, estavam atrelados a
investimentos de base e, uma vez que a base não foi feita, recursos foram
desperdiçados. Nossa sorte é que os
BRICS também não são lá grande coisa, do contrário os erros do governo do
Brasil ficariam bem mais evidentes ante o resto do mundo. É como se um construtor, iniciasse a
construção de uma casa pelo telhado, não há como fazer isso, entretanto os
“arquitetos” da gestão pública gastaram bilhões em algo sem base.
As medidas tomadas pelo
Ministério da Educação ressaltam bem isso.
Nos últimos 30 anos, a qualidade de ensino no Brasil vem caindo
drasticamente. Enquanto no início dos anos 80, os gestores em educação se
preocupavam com as crianças na 2ª série do primário que não sabiam ler e
escrever direito. Hoje, tal problema expandiu a ponto de termos crianças no 5º
ano do ensino fundamental com o mesmo problema. Não obstante a isso, para
mascarar a baixa qualidade de ensino o governo cria mecanismos como a lei de
progressão automática que vai “ levando” o aluno ano a ano e, ao concluir o
ensino médio, o aluno formado não sabe elaborar uma simples redação e é um
verdadeiro desastre em cálculos envolvendo raciocínio lógico. Deste modo, como
é possível um aluno que recebeu baixa qualidade de ensino no ensino fundamental
e ensino médio entrar em uma universidade e tornar-se um profissional
competente? Definitivamente isso não é
possível, mas o governo acha que sim.
Investir em educação de base é
uma solução de longo prazo para melhorar a educação no Brasil. Se o governo
investisse pesado, hoje( eu digo agora,
já) , na melhoria da qualidade de ensino
do 1º ao 9º ano do ensino fundamental, daqui 4 anos expandisse os investimentos para o ensino
médio e nos 4 anos seguintes chegasse ao ensino superior. Em uma década a
qualidade de ensino no país aumentaria em um mínimo de 60% e se tais
investimentos permanecessem de forma continuada, em 2034 o Brasil seria
referência mundial em educação.
Longo prazo é tempo demais para o
governo e, assim sendo, o governo adota medidas paliativas que dão a impressão
de resolver o problema quando que na verdade apenas mascaram os fatos. O PROUNI,
o PRONATEC e as Universidades Federais são os carros-chefes dos
investimentos em educação por parte do governo federal e de fato, são muito
legais, entretanto, isso nos remete ao que mencionei em meu primeiro parágrafo
– “ começar a construir uma casa pelo telhado”. Os alunos das escolas públicas
por não terem uma base sólida de ensino sólida, não conseguem acompanhar um
curso universitário e em pouco tempo,
desistem.
Outra medida paliativa do governo
que fica muito bonita na propaganda, mas que não possui nenhuma função prática
é o chamando “ Ensino Médio Inovador ou Integral. Essa modalidade de ensino foi
implementada na Islândia nos anos 80 e foi responsável direta em colocar os
islandeses como referência em educação pública. As escolas públicas islandesas
possuem estrutura pedagógica muito além do que as melhores escolas particulares
do Brasil oferecem.
O aluno islandês passa o dia
inteiro na escola e além das aulas tradicionais, há diversas atividades
desenvolvidas cujo foco principal é ajudar o aluno a descobrir e desenvolver
suas próprias aptidões. Teatro, música,
artes, ciências, culinária, esportes, enfim, nas escolas públicas islandesas,
há uma gama de opções pedagógicas disponíveis aos alunos de tal modo que aprender é algo prazeroso e a escola é de
fato a segunda casa do aluno. E no Brasil, como o ensino médio integral
funciona?
Como já disse anteriormente, o governo não faz nada que possa lhe dar
frutos ( leia-se votos) a longo prazo. Para implantar o ensino médio integral
no Brasil e obter os mesmos resultados da Islândia ( a Islândia levou 20 anos
para conseguir colher os bons frutos da educação) antes, o governo do Brasil teria que
praticamente demolir quase todas as escolas públicas existentes no Brasil e
construir outras que comportassem a estrutura que essa modalidade de ensino
exige e por não ser possível fazer isso do dia para a noite, o que o governo
fez foi simplesmente pular essa parte e resolver o problema com uma simples
canetada no papel e o resultado não poderia ser outro: o Ensino Médio Integral
no Brasil se resume a manter os alunos dentro de escolas sem nenhuma
estrutura. Eles passam praticamente o
dia todo dentro de salas de aula ou zanzando pelos corredores da escola de modo
que, para eles, ao contrário de seus contemporâneos islandeses, ir à escola é
um martírio, é chato e isso está aumentando o número de alunos que desistem de
concluir o ensino médio. Muitos alunos ou procuram escolas que ainda não foram
“ contempladas” pelo ensino médio integral ou esperam atingir a idade legal
para frequentar o EJA ( Ensino para Jovens e Adultos).
Se for pra fazer mal feito, então
nem faça!
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